segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Ilha de mim mesmo.

''Só é lutador quem sabe lutar consigo mesmo.''
Carlos Drummond de Andrade
 
 
[..] o mais engraçado é ver-me diante das coisas, como se eu pudesse estar alheio a todas elas, distante, e como que quem abriga-se em um forte, cercado de coisas, para defender-me ou distanciar-me. O melhor abrigo que temos, somos nós mesmos, e gastamos horas e horas em um busca inútil e estúpida, tentando esculpir nosso refúgio em alguém ou em outra coisa. Alguém será apenas um reflexo, e uma coisa será apenas um complemento. O que temos, é o que somos. Somos nossa própia fortaleza, e tudo o que buscamos está dentro de nós mesmos. Aí sim, alguém irá nos visitar de barco, irá aportar em nossa ilha, e quem sabe... Permanecer. Mas um viajante é como borboleta solta em uma furacão, nunca se sabe se irá pousar ou se irá permanecer pairando, pairando sem nunca pousar, e não tenho como saber se esse barco irá aportar ou se irá descarregar e depois... Zarpar. Por isso é que me fortaleci, que subi na mais alta palmeira, e pude constatar como tão pequeno sou, diante deste mundo. Como gigante torno-me com minhas ações. E que este sim é o que quero. Permanecer com minhas certezas, com as minhas coisas absolutas, construindo quem sou, porque desde o dia em que deixei de ser abrigado no ventre dEla, tornei-me responsável por cada grito, por cada coisa que fiz e faço. Em cada coisa, em cada gesto, em cada mínima hesitação breve entre o respirar e o inspirar, trago pra dentro de mim, a certeza de quem sou e do que sou capaz. De que eu respondo da maneira que eu quero, que sou capaz de tudo e de que este mundo é amplo demais para eu tê-lo para mim, que eu posso sim, fazer o meu mundo, uma ilha, no meio do nada, uma ilha só minha, onde só habitam os meus desejos, aqueles que amo, sem precisar de barcos nem borboletas. Esta é a ilha de mim mesmo. A ilha onde eu me vejo diante das coisas, como se estivesse alheio a elas. Abriguei-me dentro de mim mesmo, onde é mais seguro, mais confiável e onde há mais luz.


[pena que alguns esquecem dessa luz interna e lutam em vão.]

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