quarta-feira, 26 de setembro de 2018

veilleuse.


Acertou-me em cheio, no meio da madrugada, como um soco no estômago, um par de mãos em torno de minha traqueia, pressionando, estrangulando. O ar foi embora, e os olhos arregalam-se. Uma estranha sensação de estar fora da realidade, de estar alheio ao mundo. Um pânico, uma dúvida. Um clarão no meio da noite. Sussurrando coisas. Coisas. Te causam até misofonia. O que são, de onde em. Porque roubaram minha paz? Estava aqui só a tentar dormir. Porque me acordaste, coisas incompreensíveis? Mas veio sem se saber da onde e instalou-se me em minha cabeça, me empurrando várias vezes em meus lençóis. Um clarão na noite. Um pensamento não direcionado, uma dúvida sem resposta, uma palavra que explica tudo, mas não é encontrada. Pistas para decifrar algo que ainda não foi descoberto, mas quem sabe ao deixá-la ali, faça sentido mais tarde. Mas tira-me o sono, me coloca em rotações constantes e ininterruptas na cama, várias tentativas de amassar o travesseiro. Foi um golpe seco, sorrateiro, sem previsão. O que se faz quando acorda assim? Quando as coisas vem martelar sua cabeça, quando uma dor aperta teu peito e o tambor das batidas do teu coração tornam-se altos, descompassados? Quando o cansaço lhe devora, e mesmo te consumindo, não te deixa fechar o olhos sem querer abri-los daqui a cinco minutos? O suor da testa tenta ser enxugado por mãos também suadas, os olhos ardem e a única coisa a brilhar na noite são os trovões. Um clarão na noite. Dois. Um no céu e outro na sua cabeça. Uma centelha, desesperada por respostas. Que propaga-se em meio ao ar seco e duvidoso da madrugada. Respostas.

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