quarta-feira, 26 de setembro de 2018

bohème délirant


A cada copo eu sei que é algo que estarei diluindo de forma drástica. Irei finalmente falar. Sobre a vida, sobre as pessoas. Sobre a vida das pessoas. E a cada trago, uma lufada para longe. Um pedaço que vai embora, uma brasa acendida na alma. Mais um copo. Pra que copo. Entorne. Uma garrafa. Um ardor no peito, uma rasgada na garganta. Cada movimento mais lento. Pra que pressa na vida. Pra que. Se tudo parece estar congelado nessa hora. Os traços dos ponteiros dançam no círculo fechado por vidro no pulso de sua mão. É isso. E ao abrir a boca para soltar, sai tudo. Saem palavras, saem risos, saem coisas sem pensar. A secura na boca, um estalado de língua. Essa foi forte. O gosto que fica é a vontade de mais. De secar garrafas, zerar carteiras. Mais e mais, e assim vem mais uma. O que estou diluindo a essa hora. O que estou destilando a cada segundo. Tudo convergiu para agora. Nessa mesa, nesse bar. A sensação de estar preso e de repente querer dançar. As correntes invisíveis caíram por terra. As vendas agora estão nos bancos. Enxergo, escuto, sinto. Tudo mais claro, mais audível, mais perceptível. O mundo é intensidade, é insanidade, é bem mais que uma cidade. Bem mais que esses copos. Até que amargue, até que apague.

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