quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

les chevaux.

É chegado o momento de encarar fatos, de ligar pontos e afirmar. Não em sua mente, mas verbalmente. É isto que está acontecendo. Talvez no andar da carruagem, algo quebrou e a ligação tenha se fragilizado e os cavalos seguiram rumos opostos. Os cavalos correram à frente, mas sem levar a carruagem. Sem perícias e sem saber o que, só seguiram e foram para frente. E é chegado o momento de assumir isso. Talvez você não faça mais parte da viagem junto com aquele cavalo. Os cavalos se foram. E talvez seja doloroso, mas parecem não sentir sua falta. Talvez estejam amando a sensação de novos ares. Quem sabe uma corrida até o mar. Um ar salgado talvez limpe as narinas. Abra os olhos. Lacrimejem. Limpem os olhos. Quem sabe a caminhada seja até uma serra. Quantas cachoeiras terão lá? Quem sabe tenha outros cavalos. Muitas possibilidades. E cada possibilidade, parece que elos vão se fragilizando também. Qual a força do cotidiano frente a uma novidade? O quão forte pode ser o diário, o aconchegante. Por mais doloroso que possam ter sido as longas caminhadas lado a lado, pêlo no pêlo. Os atritos e feridas que possam ter surgido ao longo do caminho, podem ter marcado. Podem ter feito muito. Podem ter impresso na sua alma todas as dores e sensações que evoquem aquele momento. Mas e a caminhada? Foi boa? Essa sua liberdade agora, será duradoura ou instantânea, cavalo distante? Pois é chegado o momento. De encarar os fatos, de encarar o panorama. Os pontos se conectarem. Talvez não haja mais o que os cavalos carregarem junto. A carruagem ficará lá perdida, sendo consumida pelo agir do tempo. Coberta de musgos, com madeira a se deteriorar e fungos a lhe enfeitar. Mas era a carga que eles dividiam durante a viagem. Talvez o outro cavalo não a ache importante, ou que seja algo válido para levar a frente. Afinal, como é bom correr, crina ao vento... Será se esse cavalo pensa, ou cogita pensar em como o outro cavalo está? Talvez ele não queira mais voltar. Sem mais longas caminhadas. Sem mais pesos compartilhados. Cada cavalo para seu lado. E sem pensar no outro. Mas são dúvidas. Não houve troca de relinchadas. Apenas o silêncio do imediato e irreversível presente, que se converte em passado a cada minuto. Aconteceu assim, a quebra. A ruptura. E cada cavalo tem o direito de rever sua jornada à sua maneira. Mas eles voltarão a se rever? Essa nova trilha vale mais a pena? Pois já está chegando a hora de ligar os pontos. E talvez seja a hora de afirmar certas coisas. Encarar fatos e lidar com certos fatos. Mas os fatos são o que dispomos do agora e do que temos. Até você aparecer ao longe, crina assanhada, pêlo sujo das novas rotas que traçou, isso é que se tem a pensar, senhor cavalo. Não se preocupe com a carruagem, ela ficou para trás. Se for para ser uma nova viagem, será uma nova carruagem. Mas até lá... este é o momento de afirmar. De ter pontos ligados. Lado a lado. Em retas simples. Verbal e em carne.