domingo, 16 de junho de 2019

lumières brouillées.

E de repente ali estava, sem perceber. Quase que magnetizado, quase que hipnotizado. Era ali que eu estava, era ali que parei. Como se tudo no dia tivesse convergido para esse momento. Como se cada ação tivesse sido ampliada com um grande zoom, para que após analisar em casa, ao pegar a caneca com café e olhar as estrelas, eu pudesse ver com total clareza o que aconteceu. Você estava lá. Habitando a cena presencialmente. E depois (re)habitando cada memória, cada fragmento possível, cada lasca formada, que quase que magnetizadas, juntaram-se, fundiram-se. Pude ver tudo com total clareza. Após tudo. Tudo havia convergido e emergido ali. E cada palavra se tornou intensa, cada gosto foi desejado com mais vigor, cada saliva engolida com dificuldade. As músicas foram distorcidas e nada mais eu conseguia ouvir. Nada mais importava naquele momento. O meu tato só foi capaz de reconhecer seus braços em torno do meu corpo. Esguiavam-se tão devagar que pareciam sem ritmados com base em uma música que só seu corpo sabia. Mas que não era aquela música daquele lugar. Embora tudo nos tivesse levado para lá, não era aquela música. Era algo nosso. Inerente ao momento. Os passos se tornaram tortuosos e lentos, eu andava e não sabia onde estava, e de repente ali estava. Mergulhado em um abraço, quase que magnetizado. Era ali que eu estava. Com um grande zoom, tudo entre nós foi ampliado, e o café ainda está quente e consigo lembrar de cada detalhe. As luzes todas ficaram arrastadas, como borrões, e eu só conseguia ouvir usa respiração. Só conseguia sentir sua respiração. Só conseguia ver seu rosto. Como se tudo tivesse convergido para esse momento. E a dança foi lente, arrastada, como se todo o resto tivesse sido modificado em um programa de imagem para ficar com efeito de borrado. De desfigurado. Conseguimos magnetizar todo o universo em um simples dois-pra-lá-e-dois-pra-cá. Tudo parecia estar dando um super zoom em nós. Estávamos mergulhados nos braços um do outro, e cada respiração fiou mais intensa, cada beijo mais nítido, cada um deles era devagar, sem pressa, como se tivesse o dia todo para desfrutar de cada memória, de cada gosto, de cada lasca. Que memória tem o prazer para agraciar o presente com um perfume do aroma daquilo que você sentiu. Que café do mundo trará o ânimo de reavivar cada calor e cada arrepio de um momento assim. Pois cada ponteiro do relógio foi quebrado, cada ampulheta estilhaçada, cada relógio parou, o universo parou e eu só vejo borrões. Fecho o olhos para absorver cada fragmento disso. Com todo o magnetismo possível. As luzes se apagaram. As pessoas sumiram. Eu percebo a presença de cada uma delas. Eu sei que elas estão ali. E de repente não estão mais. Só você está aqui. Habitando o espaço entre meus braços, presencialmente. Sinto estar sendo habitado da mesma forma, porque tudo tinha me levado até ali. Até o momento em que essa dança parar, cada e tudo que era externo foi distorcido. pois de repente, estávamos ali, era só nós. Quase que um magnetismo. E tudo foi intenso. Não havia música, não haviam pessoas, não havia tempo. Sós nós, o vento, o céu, as estrelas. E no dia seguinte, estaremos dando um zoom em cada fragmento, em cada lasca. Com duas canecas do café que você fez.