quinta-feira, 8 de agosto de 2024

ouvrir les fenêtres.


E de repente, a porta se fechou. A janela ainda está aberta, com as cortinas, meticulosamente assanhadas pelo vento, ainda indicam: ainda há uma maneira de entrar. É em momentos como esse, que te deixam em frente a porta, que lhe fazem pensar sobre o poder que temos e como certas vezes nos sentimos tão por fora. Como irei entrar, como irei atravessar essa barreira. Barreira. Portais são feitos para demarcar territórios, para demonstrar inicio ou fim de algo. Onde começa, onde termina. Estou pensando nisso, olhando estarrecido essa porta. Tantas vezes já repeti, porque parece que cheguei até aqui e daqui não consigo mais passar. Como um filme que chega no clímax, aguardando os sons de efeitos que indiquem aquele ponto de virada na história. Porque minhas decisões não me deixam ir mais além, porque parei aqui? Porque a sensação que fica é aquele sopro frio, ao relento, de que não possuo poder algum de mudar o rumo das coisas? Que este pedaço de madeira que me separa, aqui fora, do interior, é a única coisa que me limita: ou será minha mente? Essa porta realmente existe? Engraçado como o desenrolar da vida nos coloca nessa situação. Parece estar a espreita, aguardando: qual será o próximo passo? Por incrível que pareça, parece que às vezes precisamos estar fora, para podermos avaliar o nosso "eu" dentro de certas paredes. Enquanto ainda tem portas abertas, devemos estar com olhos atentos, esperando jump scares, ou a aproveitar e desfrutar de tudo que temos? O que temos aqui? Esse é realmente o lugar certo? As coisas estão certas? Poderei me deitar a noite, sabendo que os quadros estarão no lugar, a vigiar estáticos e  incansavelmente meu respirar e as voltas que dou na cama, tentando dormir. Tomei as decisões certas? Porque aquela porta, que quis abrir, foi fechada, sem eu nem ao menos pedir. ela de repente, se fechou. A janela ainda está aberta, mas só consigo olhar para a madeira lânguida e com o brilho borrado pela poeira, que marca a entrada e a saída. Porque tive que estar fora para perceber o quão dentro eu queria estar. Tantas vezes já repeti, porque parece que cheguei até aqui, tal qual ventríloquo, sem sentir que eram minhas próprias pernas que me permitiram chegar. Porque tenho a sensação de uma mão a podar minhas ideias, de me tirar o poder, e me deixar estarrecido, a encarar ela. A porta. Estou num silêncio, a refletir, que não fui eu que pedi, ela só foi fechada. Hoje, era eu que queria atravessar essa moldura, encarar os quadros e afirmar em voz alta, para que somente as paredes escutem e reverberem minhas palavras para mim mesmo: eu que quis que fosse assim, não um outro que veio e tirou meu poder de escolha. Não fui eu que pedi esta porta fechada, não é minha culpa, e não, não é um pedido de desculpas a mim mesmo. É uma afirmação. Ainda tenho como entrar. Devo aguardar? Devo acalentar meus olhos com um rio sem controle de águas, que afirmam a sensação de estar "preso" no exterior do que construí? A ficar me assombrando com frames recortados de momentos, que não fotografei, mas que congelaram em meu cérebro e agora deslizam pelas minha veias. aflorando em gotas nos meus olhos. Que secam rápido com a poeira: estou ainda a encarar a porta, e não fui eu que pedi. Tempos depois, ainda lembro que possuo a chave e que deveria retornar: os quadros ainda estão lá, a me esperar. Eu quis entrar, entrei e agora estou fora. E eu que sei a sensação. Tantos devaneios, e esqueci durante esse mergulho profundo de ideias, de perceber o que eu já havia dito para mim mesmo: as janelas ainda estão abertas. Ainda há como voltar ainda há como vislumbrar o interior, de retornar visualmente à cena onde me fiz a pergunta: qual será o próximo passo? Possuo poder, sim, isso é uma afirmativa, uma autoafirmativa, para que ecoe nos cantos com mais penumbra em meu ser. Certas portas são momentâneas, mas ainda sim marcam início e fim de territórios. Físicos. E os que criamos para preencher de ideias e sentimentos. Por mais que aperte, que me faça me revirar a noite, a ouvir o silêncio invadir a sala, salpicado apenas pelos grilos distantes, eu ainda sei. Essa porta só está agora assim. Mas achei que ela estivesse fechada, irrevogavelmente, como se para um duradouro e sofrido "por um certo tempo". Mas não se preocupe: as janelas ainda estão abertas para dizer, que sim, portas mudam de tamanho. Sempre há como voltar. Por incrível que pareça, parece que às vezes precisamos estar fora, para podermos avaliar o nosso "eu" dentro de certas paredes. Quero estar aqui. Porque aquela porta, que eu quis abrir, foi fechada, sem eu nem ao menos pedir. ela de repente, se abriu. - Tenha calma - disse a mim mesmo. Algumas dessas abri, alguma fechei, algumas para mim foram abertas e outras destas, sem eu ao menos pedir, foram fechadas. Porque tenho a sensação de uma mão a podar minhas ideias, de me tirar o poder, e me deixar estarrecido, a encarar ela: uma ilusão. Eu que tenho o poder, e eu sei, que, passado o tornado que instalei em minha cabeça, conseguirei ver uma outra forma de entrar. Seja uma janela, seja uma porta, que com um jump scare, se abra. Mas achei que ela estivesse fechada, irrevogavelmente, como se para um duradouro e sofrido "por um certo tempo". Sim, estou em um loop de pensamentos. Me atropelei. Respire. As janelas ainda estão abertas, posso ver daqui. Com as cortinas, meticulosamente assanhadas pelo vento, ainda indicam: ainda há uma maneira de entrar. O que construí ainda está lá: cada frame, cada passo, cada música. O que mudou? Eu me dar conta que sou eu que tenho o poder de arejar as janelas de minha mente, e destrancar portas. Devo acalentar meus pulmões com nuvens sem controle, para controlar minhas ideias e me (re)afirmar a sensação de este é o interior do que construí. Agora, não estou mais lá. Mas irei retornar. E dessa vez, sou eu que irei abrir as madeiras, limpar a poeira que demarcam esse território. Sabendo que outros tantos já estão fechados. Mas de repente, esta, se abriu. Entrei, e deslizei as cortinas. Que entre vento. Estou num silêncio, a refletir, que não fui eu que pedi, ela só foi fechada. Hoje, atravessei essa moldura, encarei os quadros e afirmei em voz alta, para que somente as paredes todas escutem e reverberem minhas palavras para mim mesmo: eu que quis que fosse assim, não um outro que veio e tirou meu poder de escolha. Eu que voltei. Certas portas são momentâneas. Certas fehcaduras também. As físicas. As mentais. Mas eu que controlo. Eu ainda vou voltar. Isso é uma afirmativa, uma autoafirmativa, para que ilumine os cantos que eclipsei durante esse tempo. Já nem escuto os grilos lá fora. Meus frames voltaram a se materializar. Estou de volta. Como um filme que chega no clímax, aguardando os sons de efeitos que indiquem aquele ponto de virada na história. Esta é minha virada, dona porta.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

les chevaux.

É chegado o momento de encarar fatos, de ligar pontos e afirmar. Não em sua mente, mas verbalmente. É isto que está acontecendo. Talvez no andar da carruagem, algo quebrou e a ligação tenha se fragilizado e os cavalos seguiram rumos opostos. Os cavalos correram à frente, mas sem levar a carruagem. Sem perícias e sem saber o que, só seguiram e foram para frente. E é chegado o momento de assumir isso. Talvez você não faça mais parte da viagem junto com aquele cavalo. Os cavalos se foram. E talvez seja doloroso, mas parecem não sentir sua falta. Talvez estejam amando a sensação de novos ares. Quem sabe uma corrida até o mar. Um ar salgado talvez limpe as narinas. Abra os olhos. Lacrimejem. Limpem os olhos. Quem sabe a caminhada seja até uma serra. Quantas cachoeiras terão lá? Quem sabe tenha outros cavalos. Muitas possibilidades. E cada possibilidade, parece que elos vão se fragilizando também. Qual a força do cotidiano frente a uma novidade? O quão forte pode ser o diário, o aconchegante. Por mais doloroso que possam ter sido as longas caminhadas lado a lado, pêlo no pêlo. Os atritos e feridas que possam ter surgido ao longo do caminho, podem ter marcado. Podem ter feito muito. Podem ter impresso na sua alma todas as dores e sensações que evoquem aquele momento. Mas e a caminhada? Foi boa? Essa sua liberdade agora, será duradoura ou instantânea, cavalo distante? Pois é chegado o momento. De encarar os fatos, de encarar o panorama. Os pontos se conectarem. Talvez não haja mais o que os cavalos carregarem junto. A carruagem ficará lá perdida, sendo consumida pelo agir do tempo. Coberta de musgos, com madeira a se deteriorar e fungos a lhe enfeitar. Mas era a carga que eles dividiam durante a viagem. Talvez o outro cavalo não a ache importante, ou que seja algo válido para levar a frente. Afinal, como é bom correr, crina ao vento... Será se esse cavalo pensa, ou cogita pensar em como o outro cavalo está? Talvez ele não queira mais voltar. Sem mais longas caminhadas. Sem mais pesos compartilhados. Cada cavalo para seu lado. E sem pensar no outro. Mas são dúvidas. Não houve troca de relinchadas. Apenas o silêncio do imediato e irreversível presente, que se converte em passado a cada minuto. Aconteceu assim, a quebra. A ruptura. E cada cavalo tem o direito de rever sua jornada à sua maneira. Mas eles voltarão a se rever? Essa nova trilha vale mais a pena? Pois já está chegando a hora de ligar os pontos. E talvez seja a hora de afirmar certas coisas. Encarar fatos e lidar com certos fatos. Mas os fatos são o que dispomos do agora e do que temos. Até você aparecer ao longe, crina assanhada, pêlo sujo das novas rotas que traçou, isso é que se tem a pensar, senhor cavalo. Não se preocupe com a carruagem, ela ficou para trás. Se for para ser uma nova viagem, será uma nova carruagem. Mas até lá... este é o momento de afirmar. De ter pontos ligados. Lado a lado. Em retas simples. Verbal e em carne.

terça-feira, 11 de janeiro de 2022

coeur brisé


Se tens um coração de ferro, bom proveito.
O meu, fizeram-no de carne, e sangra todo dia.

(José Saramago)

loin.


Meu amor é assim, sem nenhum pudor.
Quando aperta eu grito da janela
— ouve quem estiver passando —
ô fulano, vem depressa.
Tem urgência, medo de encanto quebrado,
é duro como osso duro.
Ideal eu tenho de amar como quem diz coisas:
quero é dormir com você, alisar seu cabelo,
espremer de suas costas as montanhas pequenininhas
de matéria branca. Por hora dou é grito e susto.
Pouca gente gosta.

Um jeito (Adélia Prado)